quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Psicanálise(s) da Contemporaneidade




PSICANÁLISE(S) DA CONTEMPORANEIDADE.

Autor: Olivan Liger




Muito se fala em psicanálise na atualidade, mas pouco se diz dela em muitas das práticas correntes, causando uma preocupação quanto à disseminação, distorção e banalização da técnica e corpo teórico do método psicanalítico.

O termo psicanálise foi usado pela primeira vez em 1896 pelo seu criador Sigmund Freud encerrando um conjunto de conhecimentos técnicos e teóricos que visavam a investigação do inconsciente e do psiquismo.

A história começa com a clínica da histeria e a necessidade do jovem Sigmund Freud de praticar a clínica privada para obter recursos financeiros que possibilitassem o seu casamento com Martha Barnays. Após um breve estágio no Pitié Salpêtrière, Paris, sob a maestria do pai da neurologia, Charcot, Freud suscita questionamentos quanto a origem da histeria e suas manifestações. De volta a Viena, através do neurologista e amigo Breuer, Freud tem acesso ao caso de Bertha Pappenheim, o clássico caso Anna O., no qual a técnica hipnótica era usada para trazer à consciência eventos traumáticos associados a sintomas manifestos, esquecidos pela paciente. Para Freud, a histeria era uma doença de reminiscências.

Entusiasmado com o suposto progresso clínico do caso, Freud passa então a utilizar a técnica hipnótica como principal recurso na clínica da histeria. Com o passar do tempo, Freud percebe que seus recursos não funcionavam com todas as pacientes, uma vez que a suscetibilidade hipnótica está condicionada ao arbítrio do paciente e é sabido que as histéricas são facilmente sugestionáveis, o que não caracteriza todos os neuróticos. Julgando-se um mal hipnotizador, Freud passa a utilizar da livre associação para investigar as causas dos sintomas histéricos e neuróticos, considerando que pensamentos involuntários sentidos como perturbadores, quase sempre são colocados de lado e que, quando livremente expressos, poderiam tecer uma tecer uma trilha à trama obscura dos conteúdos psíquicos que apareciam sob a forma de sintomas diversos.

O abandono do método catártico e adoção do método associativo foram decisivos para a criação do método psicanalítico. A hipnose, como observada posteriormente, inclusive no caso Anna O. suprimia um sintoma originando outro, portanto não se tratava de um recurso eficiente e eficaz como pensaram Breuer e Freud inicialmente.

A partir da livre associação, conceitos mestres para o estabelecimento da psicanálise foram construídos fundamentando hoje toda uma prática terapêutica aperfeiçoada por seguidores do grande mestre.

Das reuniões de quartas feiras, surge a IPA (International Psychoanalitical Association) em 1910 e com o patrocínio de Freud, levando em conta a sua preocupação com a manutenção dos princípios teóricos e técnicos de sua criação. A IPA nasce com o objetivo de congregar as sociedades psicanalíticas existentes, normatizar a formação de novos psicanalistas e evitar distorções e descaminhos com a expansão da prática psicanalítica.

Com sede em Londres, a IPA congrega hoje mais de setenta sociedades psicanalíticas em trinta e três paises com mais de onze mil e quinhentos membros associados.
Mas, seguindo o objetivo de mostrar o quanto a psicanálise tem sido usada e divulgada, sem nada de psicanálise dizer, é importante ressaltar como, no Brasil, a ciência do inconsciente aportou.

Em 1937, a Dra. Adelheid Koch, judia, planejando sair da Alemanha tomada pelo movimento nazista,  foi enviada pela IPA para São Paulo para formar psicanalistas de acordo com os padrões da IPA. Recebida pelo médico Durval Marcondes, com quem Freud trocar correspondência, psiquiatra, intelectual e apaixonado pela psicanálise, Adelheid Koch inicia seu treinamento a um grupo mínimo de psicanalistas numa das salas do consultório do Dr. Durval e em 1944 criam o grupo psicanalítico de São Paulo, embrião da atual Sociedade Brasileira de Psicanálise – São Paulo.

No Rio de Janeiro, um grupo de médicos e intelectuais, sem a tutoria da IPA vai buscar treinamento psicanalítico em Buenos Aires, Argentina e trazem consigo Mário e Zaira Martins, psicanalistas pioneiros do movimento psicanalítico de Porto Alegre.
Preocupada com o movimento psicanalítico carioca, em 1948, a IPA envia seu representante oficial, Dr. Marc Burke para iniciar os treinamentos segundo padrões da Associação.

Desses estados surgem as três grandes sociedades psicanalíticas do Brasil: Sociedade Brasileira de Psicanálise – São Paulo, Sociedade Brasileira de Psicanálise – Rio de Janeiro e a Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre.

Desde a criação das sociedades brasileiras, a psicanálise tem trilhado altos e baixos. A partir de 1962, quando da regulamentação da profissão de psicólogo no Brasil, a psicanálise, sendo um dos pilares da psicologia, passou a ser facilmente confundida com tal ofício. Analista e psicanalista passaram a ser usados como sinônimos de psicólogo. A burguesia brasileira via um certo “glamour” em deitar-se num divã ou simplesmente freqüentar o consultório de um psicanalista, tornando-se durante a década de 60, uma excentricidade essencial para uma classe social burguesa intelectualizada.

Cumprindo as determinações da IPA, as três grandes sociedades brasileiras de psicanálise somente aceitam médicos e psicólogos para treinamento, o que derivou a criação de outros institutos e sociedades psicanalíticas não filiadas à IPA para formação psicanalítica de outros profissionais senão médicos e psicólogos.

Se considero o escrito de Freud, de 1926, “A questão da análise leiga”, constato uma certa incongruência entre o pensamento Freudiano e a prática admissional das sociedades psicanalíticas filiadas à IPA, uma vez que o Mestre em seu artigo, se opunha à formação psicanalítica de profissionais da área médica. Sob influência  da Argentina e Estados Unidos, esse último tendo mais assistentes sociais treinados em psicanálise do que psicólogos, tornou-se mister a criação de instituições formadoras não filiadas a IPA, mas com padrões de qualidade similar. Atualmente, destacamos no estado de São Paulo, o Centro de Estudos Psicanalíticos conhecido popularmente como CEP, com 33 anos de existência como uma dessas neo-instituições formadoras de psicanalistas e produtora de saberes psicanalíticos.

Por tratar-se de uma profissão não regulamentada, cuja descrição do oficio consta apenas da Classificação Brasileira de Ocupações, do MT-B, sob código 2515-50, a psicanálise passou a ser alvo de diversas distorções e práticas de pouca credibilidade.

Na trilha da quebra de tradições e do princípio de entropia (todo discurso é válido) que rege os tempos pós-modernos, muitas instituições denominadas inadequadamente de psicanalíticas surgiram divulgando técnicas psicanalíticas inovadoras. A psicanálise passou a se mesclar com práticas holísticas (cromoterapia, florais, massagens, etc.), com a psicologia humanista de Erich Fromm, com técnicas como coaching e inserções de PNL numa miscelânea que merece qualquer nome, exceto psicanálise.

Instituições acadêmicas renomadas passaram a ministrar cursos de pós-graduação e titularizar seus alunos como psicanalistas, sem o menor rigor de manutenção do chamado tripé de formação, legado Freudiano, que requer a análise pessoal, supervisão clínica e aquisição de conhecimento teórico como base de qualquer treinamento que pretenda titularizar seus treinandos como psicanalistas.
Instituições cuja finalidade é puramente comercial, reduzem o tempo de treinamento a ínfimos meses, descaracterizando um treinamento psicanalítico.
Médicos psiquiatras recebem treinamento em residência médica de psiquiatria e se auto-intitulam psicanalistas disputando lugar com psicanalistas de fato, pseudo-psicanalistas, psicólogos e terapeutas diversos. Um mercado de ofertas de curas rápidas (ou não, se o paciente pertencer a uma classe social de alto poder aquisitivo) disputando espaço com a medicalização banalizada e resultando na perda da essência da psicanálise, dos seus conceitos primordiais e de sua técnica nem sempre é compreendida até mesmo por quem se diz praticante.

Da psicanálise e seus conceitos surgiram abordagens como a psicoterapia de orientação psicanalítica e psiquiatria psicodinâmica. A fundamentação teórica parte da psicanálise. A psicoterapia com orientação psicanalítica é exercida por um psicólogo com pós-graduação em psicanálise sem necessidade do uso do divã e com um setting menos estruturado do que na psicanálise. Laplanche & Pontalis definem essa abordagem como “uma forma de psicoterapia que se apóia nos princípios teóricos e técnicos da psicanálise, sem todavia realizar as condições de um tratamento psicanalítico rigoroso”.
Para Kernberg, o objetivo de uma psicoterapia de orientação psicanalítica é uma reorganização parcial do psiquismo no contexto de uma mudança sintomática significativa, ou seja, obter uma melhora do sintoma buscando um equilíbrio das configurações impulso/defesa. Ainda segundo esse autor, as intervenções de clarificação e confrontação ocupam um espaço muito mais amplo do que as interpretações genuínas.

A psiquiatria psicodinâmica de Glen O. Gabbard atribui igual relevância à história clínica do paciente e a compreensão psicodinâmica do seu sintoma.

Algumas derivações preservaram essencialmente os conceitos básicos da psicanálise, outras, partindo do conceito essencial, modificaram-nos para adequá-los a novos conceitos próprios, mas em suma, mantiveram a essência da psicanálise no que tange ao aparelho psíquico e suas instancias.

Recentemente, ouví de um psicanalista que a interpretação era tudo e que na sua prática clínica era importante pontuar sempre as motivações inconscientes de seus pacientes. Internamente discordei, pois imagino que tomar posse consciente do que se fala inconsciente nada significa, é apenas uma racionalização resultado de uma suposta interpretação fora de timing. A interpretação de supostos conteúdos inconscientes fora do tempo do paciente e racionalizada pelo analista não tem qualquer significado em psicanálise. Se não é “sentida” pelo analista, não será “sentida” pelo paciente. Freud alertava para o fato de uma interpretação ser algo que nasce dentro do analista e é fruto da transferência estabelecida no processo, seu berço é a neutralidade, abstinência e a atenção flutuante do analista, ou seja, está fora do campo da percepção racional.
Em Lacan, nos deparamos com o conceito do desejo do analista, o qual é um lugar que elicia o ato analítico capaz de fazer emergir a verdade do sujeito em análise, também algo que se origina da ausência de ego, fora do controle racional.
Não há, portanto, interpretação que não se origine um estado de embotamento do ego do analista. Tudo mais é discurso de mestre, como diria Lacan.

Como supervisor clínico de profissionais atuantes e também formandos, percebo que a ansiedade funciona como o motor que faz o ego atuar com suas defesas na maior parte dos casos. A necessidade de responder à demanda do paciente com respostas ou elucidações explicativas acaba não possibilitando a entrada do analista no lugar do desejo do analista, no lugar de neutralidade, abstinência e escuta com atenção flutuante.
O formando que inicia sua prática clínica parece, de início, ter uma intolerância ao silêncio e não sustentá-lo por muito tempo, ávido de ouvir e dar lógica ao ilógico, incorre no erro de interpretar o que não é interpretável.

Outrossim, observo que a maior parte dos institutos que se intitulam psicanalíticos e têm como objetivo o ganho financeiro estabelecem um número de horas de análise pessoal necessárias para a titulação de psicanalista. Entendo que um número de horas estabelecido é um mínimo para uma análise pessoal e não a regra. Uma análise não pode transcorrer como um planejamento estratégico, pois o tempo e a verdade de cada sujeito são únicas e novamente lanço mão de um conceito de Lacan: o tempo do inconsciente não se submete ao tempo lógico, portanto uma análise didática depende do analisando e do seu vínculo com o analista, do desejo do analista e das resistências inconscientes do analisando, da transferência e da demanda da verdade e assim sendo, não há tempo... o analisando estará autorizado a ser analista quando o seu próprio analista não se fizer mais necessário. Este é o único tempo de análise pessoal possível para uma formação: o tempo do inconsciente de cada sujeito.

Por ter passado pela função de professor em algumas instituições, noto que a falta de rigor é outra característica comum em algumas instituições. Não se trata de rigor acadêmico, aquele que se inscreve na avaliação escrita e numa nota dada. O rigor a que me refiro começa desde a entrevista seletiva, onde o candidato pode declinar da sua escolha pela instituição, assim como a instituição pode recusar o candidato por entender que suas motivações, seu grau de intelectualidade para compreensão de determinados conceitos e suas expectativas a respeito de uma formação não são compatíveis com a proposta da instituição. O rigor se dá na exigência da leitura, na apresentação de seminários, no cumprimento das regras e diretrizes da instituição, o rigor se dá quando se cobra implicitamente a melhora da essência do sujeito no transcorrer de uma formação. Ensinar psicanálise é em parte ser psicanalista, pois os pequenos detalhes do discurso, da postura, da fala e da interação do formando, da resistência à apreensão de determinados conteúdos são formas de avaliação e de intervenção (mais pedagógica do que psicanalítica).
Desta forma, percebo que uma boa parte dos chamados institutos de formação são locais de ensinamento teórico da psicanálise e não comprometidos com a formação.

Nos últimos tempos, surgem institutos mistos que pretendem formar psicanalistas, mas também formam practitioners em PNL, hipnoterapeutas, coaches, terapeutas holísticos entre outras técnicas. Acho que o estabelecimento de um “setting” institucional formativo em psicanálise já é uma questão demasiado complexa e requer manutenção constante dos padrões e métodos institucionais impedindo assim outras formações conjuntas.

Por ausência de uma regulamentação da pratica psicanalítica, o titulo de psicanalista passa a ser usado por qualquer suposto profissional que queira dar um “plus intelectualizado” na sua prática. Conforme instrução no site do Sindicato dos Terapeutas/ Sinte, sobre o uso do titulo de psicanalista, encontramos:

Já os termos "psicanálise" e "psicanalistas" são absolutamente livres para serem utilizados pelos Terapeutas Holísticos, pois o único texto legal em que se aborda a técnica é quanto ao Imposto de Renda retido na fonte: DECRETO 1.041 DE 11/01/1994, que Aprova o Regulamento para a Cobrança e Fiscalização do Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza, no ART.663 - Estão sujeitas à incidência do imposto na fonte, à alíquota de seis por cento, as importâncias pagas ou creditadas por pessoas jurídicas a outras pessoas jurídicas, civis ou mercantis, pela prestação de serviços caracterizadamente de natureza profissional (Decretos-lei números 2.030/83, ART.2, e 2.065/83, ART.1, III, e Lei número 7.450/85, ART.52).

Estranhamente não há nenhuma orientação ou exigência quanto à formação psicanalítica, ao contrário, conforme o sindicato em questão, o título psicanalista é absolutamente livre para ser usado pelo terapeuta holístico. Institui-se o uso do título de psicanalista por um código da receita federal e não pela formação, prática e conhecimento de seu ofício.

No site de busca do Google encontra-se a psicanálise mesclada com todo tipo de técnica: Psicanálise, coaching e consultória (inclusive com o preço da sessão individual: R$ 440,00); Psicanálise em Coaching; Coaching executivo psicanalítico.  Entre o coaching e a psicanálise existe em comum o uso da fala e da palavra como recurso interativo e nada mais. Coaching é uma excelente técnica, porém não é psicanálise, pois no momento em que o coaching é pontual e tem objetivos claros possibilitando ao lider coach uma intervenção mais diretiva com constantes feedbacks; a psicanálise é difusa, não diretiva, não pretende chegar a um ponto específico, mas a uma verdade ou verdades desconhecidas; o Coaching restringe a pontos específicos da demanda do paciente, a Psicanálise amplia buscando algo além da demanda inicial do paciente.

Encontra-se também Psicanálise & PNL num único curso de uma empresa de treinamentos. PNL – Programação Neuro-Linguística, de acordo com a definição de Getúlio Barnasque, é o estudo de como o ser humano representa a realidade em sua mente e de como pode perceber, descobrir e alterar esta representação para atingir resultados desejados, ou seja, embora lide com a experiência subjetiva,  a PNL tenta sobrepor à experiência subjetiva a um determinado controle, mediante o qual a experiência poderá ser alterada para atingir objetivos específicos. Parece-me distante o suficiente do objetivo amplo da psicanálise. A PNL enquanto método terapêutico é de essencia puramente comportamental. Para Bandler e Grinder, criadores da PNL, o inconsciente é tudo aquilo que não se sabe, ou seja, do inconsciente qualificado como instância psíquica na psicanálise, temos um inconsciente adjetivado e superficial na PNL.

Engrossando o rol dos achados no site de busca do google, tem-se ainda a psicanálise holística, integrativa, homeopática, transpessoal, uma linha francesa de psicanálise corporal e para atender a demanda evangélica, encontra-se um vasto número de institutos teológicos que ministram formação em psicanálise teológica.
Acredito que cada modalidade terapêutica tenha sua eficácia e um destino específico que faz jus à sua procura em diversas circunstâncias da vida do ser humano, o problema não está no descrédito de outras técnicas ou a superioridade da psicanálise, mas na impossibilidade de criar um arcabouço técnico e teórico com terapêuticas que se contradizem entre sí e que de forma alguma preserva os conceitos fundamentais da Psicanálise.
Endosso o pensamento de que a psicanálise não é o que curará a dor da existência humana e nem é este o seu fim, e que, em determinados momentos, algumas terapêuticas divergentes do pensamento psicanalítico podem ser úteis para determinados fins.

É certo que a Psicanálise assim como Freud praticava sofreu e ainda sofre muitas mudanças para adaptar-se à modernidade e novos aparatos técnicos foram criados para atender a um perfil de pacientes da atualidade. Da frequência quase que diária à uma ou duas vezes por semana, da total mudez do analista à uma participação e informalidade no setting. Da exigência do uso do divã ao cara-a-cara das poltronas. Enfim, o perfil dos nossos pacientes e seus sintomas mudaram influenciados pela cultura e assim, a técnica psicanalítica para se tornar eficaz, também teve que sofrer mudanças. O divã para o neurótico e o olhar do analista para o sujeito contemporâneo fixado no pré-edípico, não se inscreveu na ordem do simbólico portanto não há a palavra, está aquém do édipo, preso na privação, no narcisimo ou na frustração.
É aceitável uma certa criatividade no analista, mas que esta criatividade não incorra na distorção dos conceitos teóricos fundamentais e não impossibilite o ato analítico.

De certo, não se pode prever os caminhos que a psicanálise trilhará. Tomo como certas as palavras de Wallerstein:
Nenhum de nós pode saber com que precisão apreendemos a posição geral da psicanálise nos dias de hoje, ou as direções que ela pode evoluir ( e evoluirá) e desenvolver-se de modo mais fecundo e proveitoso. Somente o nosso futuro psicanalítico poderá fornecer respostas.

Embora eu tenha o trabalho de psicanálise (psicoterapia de orientação psicanalítica e todas as suas derivações) distinto do trabalho de psicanalista (a técnica psicanalítica clássica), nem sempre tal distinção se faz clara na clínica em função de demandas específicas dos analisandos, do momento histórico que vivemos e das questões de tempo e espaço, entretanto devo retomar sempre ao eixo central do trabalho de psicanalista e manter-me atrelado aos conceitos fundamentais teóricos e técnicos do exercício do ofício.


E nós, psicanalistas que não aderimos à uma psicanálise superficial, distorcida e mesclada, o que nos resta? Acredito que manter a fidelidade ao nosso embasamento teórico é uma forma de preservar a psicanálise pura, sem “modernizá-la” para responder ao sintoma da sociedade fragmentada que vivemos.
Um trabalho coerente com o que conhecemos como psicanálise poderá preservar o respeito profissional no meio social; a divulgação da psicanálise num mundo regido pelo discurso capitalista que não suporta dor e oferece soluções rápidas e mágicas para tudo poderá ensinar um pouco o quanto a falta e a angústia podem ser saudáveis e necessárias para estar no mundo de forma mais coerente e consciente de sí.
O psicanalista faz, produz psicanálise, repensa, relê, entrelaça pensamentos produzindo novos pensares e fortalece (não muda) os pilares da técnica e da teoria psicanalítica sem necessitar responder às demandas dos modismos emergentes.



Bibliografia:

- LAPLANCHE, J.. PONTALIS, J.B. Vocabulário de Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1988
- KERNBERG, O.F.. Controvérsias contemporâneas in Psicanálise contemporânea, número especial 2001, Revista Francesa de Psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2001
- PERSON, E.S.. COOPER, A.M.; GABBARD, G. O. Compêndio de Psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2007.
- Psicanálise e Psicoterapia na terapia holística, Sindicato dos terapeutas – disponível em: <http://www.sinte.com.br/faq/index.php?action=artikel&cat=10&id=61&artlang=pt-br> acessado em 20 de Julho de 2013.
- WALLERSTEIN, R.. A trajetória da psicanálise in Psicanálise contemporânea, número especial 2001, Revista Francesa de Psicanálise. Rio de Janeiro: Imago, 2001

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